Um pouco de mim e do que me rodeia… agora que não posso pegar em agulhas.
Não quero fazer comparações… mostro um pouquinho apenas do que sou e como
estou.
No móvel de entrada do pequeno apartamento onde vivo desde 1966,
descontando os 7 anos que vivi em Moçambique, tenho as coisas que gosto de ver
quando entro em casa: os meus filhos, aqui ainda pequenos, e já nas suas casas,
e pecinhas de valor apenas estimativo, que me tocam a alma e onde gosto de ter uma
vela acesa.
É o meu minúsculo oratório… a dar as boas vindas a todos os que entram, passando obrigatoriamente
por aqui.
Para mim tudo é simbólico e importante, ignorando completamente, de
propósito, modas, estética ou o que, por ventura, alguém possa achar piroso.
A fotografia do Senhor Santo Cristo dos Milagres, a quem todo o açoriano que se preze
presta homenagem e a quem mesmo os agnósticos recorrem, eu iria jurar, em silenciosa oração, com
escondida vergonha, nos momentos mais difíceis da vida.
As hortências são “postiças”, adjetivo que a minha filha mais nova usava,
em pequenina, para qualificar as flores artificiais, que de modo nenhum substituem
as verdadeiras... mas estão aqui.
A Rainha Santa Isabel, padroeira de Coimbra, que, segundo a lenda, oferecia pão aos pobres, contrariando
a vontade do rei D. Dinis, seu marido. Ao ser questionada por ele, num desses dias de oferendas, terá transformado em
rosas o pão que levava no regaço.
É uma peça de pura arte popular que me agradou e que comprei há uns anos ao artesão chamado Sapateiro.
Dentro da redoma, a coroa de prata do Divino Espírito Santo, objeto, tenha
o tamanho que tiver, que não pode faltar
em casa de verdadeiro açoriano!...
As 3 pequenas peças metálicas, trazidas da Tailândia, Índia e Nepal, como
são representação de deuses hindus (Ganesh, Shiva) também têm aqui lugar.
Assim como o Buda, trazido de Moçambique, pertence a este lugar.
A engraçada miniatura de São Francisco e Santa Clara de Assis, num amigável brinde,
veio de Assis, na Itália.
Português é o Santo António da Júlia Ramalho, artesã que seguiu as pegadas da falecida
avó Rosa Ramalho, de muito maior valor no mercado, mas onde o traço vai ao
estilo da avó.
E como agora estou sem poder pegar nas agulhas… tenho lido. As minhas mãos estão assim...
Outro tipo de literatura fui obrigada a ler enquanto estudante. Agora gosto de ler os conterrâneos e outros, sem ter de pensar muito. Quero é distrair-me e que
o tempo passe depressa… nunca pensei desejar isto nesta idade… mas estou inquieta
para saber como irei movimentar os dedos da mão esquerda, neste momento ainda
com movimentos muito limitados.
Vou ficar bem… com a ajuda do meu diversificado grupo de amigos expostos no móvel da entrada de casa… onde não falta a velinha da esperança que não deixo apagar...
para lembrar que estou a pedir-lhes auxílio na minha convalescença.
Um abraço a todas as minhas visitas.